sexta-feira, 21 de abril de 2017


Trabalho e Saúde Mental


O trabalho, mais que uma questão de sobrevivência, é uma das mais expressivas manifestações do ser humano, se assemelhando à arte, transformando e sendo por ele transformado.  O homem aprende desde pequeno que fazer algo com um objetivo definido conquista espaço, respeito, consideração  e auto-estima. A percepção com o que ele produz é o que faz descobrir a satisfação de desenvolver uma habilidade e externa-la em um produto.
O trabalho é diferente da simples atividade, deve preencher um porquê, uma finalidade, e um valor, pois é uma forma de expressão do homem é a manifestação de algo interno que se apresenta na concretização do esforço desprendido, expondo crenças, atitudes e valores. Esta máxima é valida tanto para quem está satisfeito, quanto para quem está insatisfeito  com o trabalho.

No decorrer da história o trabalho era só uma questão de sobrevivência, com o tempo veio o surgimento do aspecto individual da produção, à medida que o ser humano se desenvolve e entra em contato com a realidade dos papéis sociais, percebe assim que sua inserção na sociedade está diretamente proporcional ao fator desempenho, no produzir passa ser ao mesmo um prazer e um meio.
Com a  Revolução Industrial e a chegada da tecnologia que veio com o propósito de “humanizar” a vida, coloca o homem numa situação paradoxal, onde a competência é infinitamente  e constantemente testada e os mais fortes impulsos competitivos são estimulados, ficando o trabalhador cada vez mais desconectado da sua produção, pois esta fica diluída no produto final, ficando assim impossível esperar que se mantenha o contato consigo mesmo, como fazia o artesão e o agricultor, na Idade Media.
O fato que a maioria dos trabalhadores hoje não consegue visualizar sentido em seu trabalho, não significa que a simples sobrevivência baste, a qualidade de vida é diretamente atingida e na pior das hipóteses o próprio trabalho tende a ser prejudicado, e a repercussão seja e nível técnico seja em nível inter-pessoal, é inevitável, considerando-se que o espaço que o trabalho ocupa na vida de qualquer ser humano produtivo, é imensamente maior que a de subsistência pura e simples. Agregado de prazer ou desprazer, jamais passa despercebido; ou se torna um fardo ou uma meta maior a ser atingida.
Ao participar apenas à uma parte do processo, o trabalhador perde a emoção da construção pois não consegue imprimir a sua marca pessoal. O trabalho antes criativo e livre, passa a ser repetitivo, com hora marcada para ingressar e sair das fábricas. O novo contexto da força de trabalho exige qualificação cada vez maior, por mais simples que seja a tarefa a executar, o trabalhador precisa ser dinâmico, capaz de trabalhar em equipe, ter raciocínio rápido, seja capaz de solucionar e diagnosticar problemas além de saber lidar com as constantes mudanças, ou seja, um perfil bem diferente do que antes era exigido.
As doenças Oriundas do trabalho, provocam um sofrimento invisível, que mesmo sendo intenso, acaba sendo bem controlado pelas estratégias defensivas, na vã tentativa de que não se transformem em patologia, pois estas descompensações  são detectadas através do absenteísmo, na quedo do rendimento da produção, sendo a punição sistemática e excludente.
O sofrimento mental e a fadiga por serem proibidos de se manifestar têm de ser omitidos, o que só o faz aumentar, pois só a doença é admitida, ficando para o profissional médico a missão de disfarçar este sofrimento com o processo da medicalização, no entanto isto acaba por  desqualificar o sofrimento, no que pode ter de mental. Somente a doença física pode ser reconhecida pela organização do trabalho, enquanto que o sofrimento mental  e a ansiedade não têm o direito de existir.
Para adquirir o status de invalidez se faz necessário que seja uma doença mental caracterizada, o sofrimento mental ao se deparar com tal situação, vai se agravando e a cronicidade   vai se instalando, permitindo que apenas no final de sua evolução seja retirada a máscara da doença mental caracterizada.
Iara Fagundes (Butiá,2014)

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