Trabalho e Saúde Mental
O trabalho, mais
que uma questão de sobrevivência, é uma das mais expressivas manifestações do
ser humano, se assemelhando à arte, transformando e sendo por ele transformado. O homem aprende desde pequeno que fazer algo
com um objetivo definido conquista espaço, respeito, consideração e auto-estima. A percepção com o que ele
produz é o que faz descobrir a satisfação de desenvolver uma habilidade e
externa-la em um produto.
O trabalho é
diferente da simples atividade, deve preencher um porquê, uma finalidade, e um
valor, pois é uma forma de expressão do homem é a manifestação de algo interno
que se apresenta na concretização do esforço desprendido, expondo crenças,
atitudes e valores. Esta máxima é valida tanto para quem está satisfeito,
quanto para quem está insatisfeito com o
trabalho.
No decorrer da
história o trabalho era só uma questão de sobrevivência, com o tempo veio o
surgimento do aspecto individual da produção, à medida que o ser humano se
desenvolve e entra em contato com a realidade dos papéis sociais, percebe assim
que sua inserção na sociedade está diretamente proporcional ao fator
desempenho, no produzir passa ser ao mesmo um prazer e um meio.
Com a Revolução Industrial e a chegada da
tecnologia que veio com o propósito de “humanizar” a vida, coloca o homem numa
situação paradoxal, onde a competência é infinitamente e constantemente testada e os mais fortes
impulsos competitivos são estimulados, ficando o trabalhador cada vez mais
desconectado da sua produção, pois esta fica diluída no produto final, ficando
assim impossível esperar que se mantenha o contato consigo mesmo, como fazia o
artesão e o agricultor, na Idade Media.
O fato que a
maioria dos trabalhadores hoje não consegue visualizar sentido em seu trabalho,
não significa que a simples sobrevivência baste, a qualidade de vida é
diretamente atingida e na pior das hipóteses o próprio trabalho tende a ser
prejudicado, e a repercussão seja e nível técnico seja em nível inter-pessoal,
é inevitável, considerando-se que o espaço que o trabalho ocupa na vida de
qualquer ser humano produtivo, é imensamente maior que a de subsistência pura e
simples. Agregado de prazer ou desprazer, jamais passa despercebido; ou se
torna um fardo ou uma meta maior a ser atingida.
Ao participar
apenas à uma parte do processo, o trabalhador perde a emoção da construção pois
não consegue imprimir a sua marca pessoal. O trabalho antes criativo e livre, passa a ser
repetitivo, com hora marcada para ingressar e sair das fábricas. O novo contexto
da força de trabalho exige qualificação cada vez maior, por mais simples que
seja a tarefa a executar, o trabalhador precisa ser dinâmico, capaz de
trabalhar em equipe, ter raciocínio rápido, seja capaz de solucionar e
diagnosticar problemas além de saber lidar com as constantes mudanças, ou seja,
um perfil bem diferente do que antes era exigido.
As doenças
Oriundas do trabalho, provocam um sofrimento invisível, que mesmo sendo
intenso, acaba sendo bem controlado pelas estratégias defensivas, na vã
tentativa de que não se transformem em patologia, pois estas descompensações são detectadas através do absenteísmo, na
quedo do rendimento da produção, sendo a punição sistemática e excludente.
O sofrimento
mental e a fadiga por serem proibidos de se manifestar têm de ser omitidos, o
que só o faz aumentar, pois só a doença é admitida, ficando para o profissional
médico a missão de disfarçar este sofrimento com o processo da medicalização,
no entanto isto acaba por desqualificar
o sofrimento, no que pode ter de mental. Somente a doença física pode ser
reconhecida pela organização do trabalho, enquanto que o sofrimento mental e a ansiedade não têm o direito de existir.
Para adquirir o
status de invalidez se faz necessário que seja uma doença mental caracterizada,
o sofrimento mental ao se deparar com tal situação, vai se agravando e a
cronicidade vai se instalando,
permitindo que apenas no final de sua evolução seja retirada a máscara da
doença mental caracterizada.
Iara Fagundes (Butiá,2014)
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